Pelas definições mais comuns, herói é tipicamente alguém identificado com boas qualidades, que tem grande coragem, força ou habilidade, capaz de grandes feitos e de inspirar pessoas.
O que dizer de um jovem super-dotado, que criou um repositório de conhecimento, pelo qual aos 13 anos de idade ganhou um prêmio do MIT. Aos 14 anos participou da especificação de um protocolo da Internet. Ajudou a criar a licença livre Creative Commons. Fundou uma biblioteca virtual para preservar conteúdos voláteis da Internet. Criou ou ajudou na criação de empresas e ferramentas livres para publicação de conteúdo na Internet. Se envolveu e montou novas redes sociais e movimentos para lutar por direitos digitais, liberdade de informação e cultura.
Em 2008, obteve e publicou um volume enorme de documentos públicos que eram disponibilizados pelo governo ao custo de alguns centavos cada. Foi investigado pelo FBI por isso, mas documentos não secretos produzidos pelo governo são literalmente públicos em todos os sentidos da palavra, não há "copyright" ou lei que proíba sua redistribuição.
E então em 2010 copiou de um repositório na Internet milhões de artigos previamente publicados em jornais universitários. Por seus métodos e pelo grande volume copiado foi acusado de "roubo" de informação. Foi enquadrado na mesma lei que pune assaltantes de banco. Acusação no minimo estranha, se considerarmos que tinha acesso legitimo ao repositório como aluno da Universidade de Harvard. Os mesmos artigos estão disponíveis e podem ser consultados por qualquer um na Internet, desde que em pequenas quantidades.
A própria organização que mantém o repositório, após identificado o aluno, fez uma declaração pública e retirou as queixas formais.
Mas, dura lex, a promotoria continuou e fez acusações de mais 12 crimes. Ameaça de penas desproporcionais chegando a 35 anos de prisão e multa de 1 milhão de dólares por aquilo que muitos considerariam apenas uma travessura sem maiores consequências. Em depressão há anos, acuado e determinado a manter seus ideais, fez da própria vida uma última declaração política.
Após sua morte, a promotoria diz que ofereceu a ele um acordo que reduziria a pena para 6 meses. Mas ainda teria que se declarar publicamente culpado pelos 13 crimes e com isso renunciar a tudo em que acreditava.
Adeus Aaron Swartz, herói e mártir.
Porca Pipa Rotta
Tuesday, January 15, 2013
Saturday, October 13, 2012
Porca Pipa
Italianos são tão famosos no mundo pela fervorosidade religiosa de alguns quanto pela profanidade de outros. "Dio cane" ou "Porco Dio" são expressões comuns em casos de infortúnios, literalmente culpando a Deus pela má sorte.
Meu avô, imigrante italiano muito religioso, jamais diria algo assim. Em vez disso, ele frequentemente usava as expressões "Porca miséria", "Porca pipa rotta" ou simplesmente "Porca pipa", em alusão à barris defeituosos que apodrecem e estragam o vinho.
A expressão ganha novo uso recentemente com as tentativas de se aprovar nos EUA uma nova lei com o nome de Preventing Real Online Threats to Economic Creativity and Theft of Intelectual Propery Act - PIPA. Muito louvável a ideia de se proteger o trabalho intelectual e artístico, mas na verdade essa proposta de lei não protege o autor.
Até anos recentes, para publicar um trabalho, sempre foi necessário um intermediário, a indústria, editora, gravadora, ou distribuidora. O autor entrega seu trabalho geralmente em troca de uma misera porcentagem dos resultados financeiros. Os intermediários ficam com o grosso da arrecadação e com a propriedade intelectual da obra. É a eles que a PIPA protege.
O escritor Assis Brasil disse em uma entrevista que sempre prefere usar o dinheiro recebido por cada um de seus livros para comprar algo durável para sua casa. Um tapete, um vaso, um enfeite. Assim ele pode dizer que o trabalho dele não se evaporou, de tão ínfimo que é o pagamento ao autor por sua obra.
A tecnologia mudou isso, reduzindo em muito os custos do intermediário e por vezes até tornando-o desnecessário. Mas o sistema ainda permanece. Os autores continuam recebendo pouco ou nada por seus esforços, enquanto os lucros dos intermediários só aumentam. Com a Internet e meios digitais, não é muito difícil para um autor publicar sua própria obra sem intermediários e receber diretamente por ela. É uma ameaça direta ao rotto da pipa, que por isso mesmo faz lobby para quebrar as liberdades na rede... e a própria rede, se necessário.
Porca pipa!
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